31 agosto 2007

Lampião na escola, sim senhor!



Cefas Carvalho

Pessimista incurável, daqueles de achar que o mundo cami-nha a passos largos para algo entre o "1984" de Orwell e o filme "Blade Runner", venho tendo gratas surpresas ao observar o comportamento pedagógico de escolas particulares de Natal e Parnamirim. Tendo um filho de 12 anos no 6º ano, obviamente o tema pedagogia me interessa. Meu otimismo vem pelo fato de testemunhar as escolas saindo da burocracia que sempre marcou o sistema educacional rumo a algo mais dinâmico e antenado com a realidade. Explico. Nos últimos dois anos, em escolas diferentes, meu filho vem sendo estimulado a ter contato com a cultura regional, através da leitura e mesmo da criação de folhetos de cordéis, por exemplo. A compreensão de fenômenos regionais também vem sendo estimulada. No ano passado, meu filho interpretou Padre Cícero em uma peça escolar que analisava se o cangaceiro Lampião era bandido ou herói. Neste ano, os colégios convidaram violeiros e cordelistas para declamar nas salas de aula, em celebração ao Dia do Folclore. Tudo muito diferente de meus tempos de criança, estudante que era do Colégio Maria Auxiliadora, tempos em que tínhamos que ir para a avenida Salgado Filho de bandeirinha do Brasil na mão para saudar o carro do presidente Figueiredo (aquele que preferia o cheiro de cavalo ao cheiro do povo) que passou a cem por hora. Eram tempos de louvar figuras distantes, quase míticas, como o Duque de Caxias e o marechal Deodoro, herópis da pátria que gloroficávamos nos trabalhos escolares. Anos depois é que descobri que o primeiro jogava cadávares em rios para contaminar a população civil do inimigo e que o segundo não passou de um fantoche entre os militares que destronaram Dom Padro II. Mas, aqueles não eram tempos de contestação. recordo que penei muito questionando aspectos do catolicismo com as professoras de “Religião”. Falar de Lampião, Corisco, Jesuíno Brilhante? Nem pensar. Tudo já vinha moído, cada verdade mais absoluta que outra. Recordo que aprendíamos sobre o Rio Grande do Norte aspectos gerais sobre geografia, clima e vegetação. No máximo uma informação sobre Jerônimo de Albuquerque. Mas, falar de índios, presença estrangeira na 2ª Guerra, oligarquias que se sucediam no poder? Nem pensar. Hoje, com todos os defeitos que ainda existem no sistema eduicacional e na tão falada perda de autoridade de pais e professores em relação aos filhos/alunos, vejo que a abertura de um canal de diálogo (mais que isso, um canal de questionamento da realidade) é não apenas saudável, mas fundamental para a construção do cidadão do futuro. Para a construção do país que sonhamos ver e que, a cada dia que passa, percebemos que não vai acontecer em um passe de mágica. Que a nova geração, questionadora, crítica, desconfiada, sem verdades dogmáticas crie enfim no Brasil o “país do futuro”.

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