15 junho 2010

Vinicius que me perdoe, mas, beleza não é fundamental!


Cefas Carvalho

A campanha publicitária que mais me encantou nos últimos anos foi aquela "Campanha pela real beleza", realizada pela linha de produtos cosméticos femininos Dove. Não sei se o leitor lembra-se do filme inicial daquela campanha: um grupo de mulheres, todas fora do padrão de beleza atual (gordinhas, magrelas, sem peito, com peito demais, com pernas finas) apenas de calcinha e sutiã brancos, se divertindo e felizes com seus corpos.
A sentença final era o conceito da campanha: os produtos da Dove eram feitos não para modelos perfeitas, mas para mulheres normais. Do ponto de vista publicitário, a campanha foi genial, tanto que ainda está em andamento, foi levada para outros países e aumentou não apenas o faturamento, mas o prestígio da Dove. Do ponto de vista pessoal, a campanha atingiu algo que me é muito caro: meu fascínio por "mulheres normais". Como os amigos – conhecendo minhas predileções e vontades – vaticinaram, apaixonei-me platonicamente por duas ou três mulheres que abrilhantavam aquele comercial de TV. Todas lindas, para meus olhos.
É curioso constatar como nós (homens, mulheres em geral, talvez as mulheres ainda mais que os homens) somos levados a aceitar bovinamente o padrão de beleza que a mídia quer nos impor. Certo, este padrão de beleza mais que midiático, é cultural, também milenar, oriundo dos tempos da Grécia e Roma antigas, passando pela colonização européia. Mas é preciso reagir – ainda que em termos de libido – contra essa cultura e essa imposição. Recordo que numa roda de amigos quase levei uns tapas (mas das gargalhadas não escapei) quando disse que me sentia mais atraído sexualmente por Denise Fraga do que por Gisele Bundchen. Onde está escrito que eu tenho que achar Gisele Bundchen a mulher mais bela e gostosa do Brasil? Onde está meu direito de preferir a beleza de Cláudia Abreu, Dira Paes ou Lorena Calábria em detrimento de modelos curvilíneas e capas de Playboy? Prefiro a beleza madura de Totia Meireles à juventude de Carolina Dickermann e Mariana Ximenes. Assistindo ao filme "Chicago" reconheço os mil e um encantos de Catherine Zeta-Jones, mas minha libido pulsa mesmo é por Renee Zelwegger.
Gosto não se discute. O meu, cansei de discutir com os amigos. Por fim eles se acostumaram com meus gostos digamos normais. Em tom de picardia, eu argumentava que não era dono de agência de modelos, nunca fui obrigado a admirar preferencialmente pernas longas e torneadas, barrigas sem qualquer proeminência, seios exatos (aliás, tenho sérias ressalvas a homens que analisam mulheres por partes ... meus gostos pelas mulheres são pelo todo ...) No frigir dos ovos, admito que não vejo qualquer problema em pequenos supostos defeitos (uma barriguinha a mais, canelas finas etc). Creio mesmo que as mulheres são mais preocupadas com isso de celulite, estrias do que os homens. Meu olhar - que abrange o todo, repito – passa por estas supostas imperfeições sem sequer notar que elas existem. Pensando bem, o assunto sempre fez parte da cultura popular. Vide expressões como "beleza não põe mesa" e "quem ama o feio bonito lhe parece". Recordo agora de Vinicius de Moraes, um dos meus poetas preferidos, quando assinalava sua frase: "As feias que me perdoem, mas, beleza é fundamental". O poetinha que me perdoe, mas a beleza - nos padrões generalizados - não é fundamental. Maior exemplo disso p ode ser visto no filme "A insustentável leveza do ser", do americano Phillip Kaufmann, baseado no livro do tcheco Milan Kundera. A chamada "cena da mulher feia" é uma das mais significativas (e excitantes) tanto do livro como do filme: o protagonista Tomas, médico charmoso que é obrigado pelo regime comunista de então a trabalhar como limpador de vidraças, recebe um chamado profissional de uma mulher que se mostra gritantemente feia, de corpo e rosto, mas que flerta explicitamente com Tomas. As insinuações da mulher feia, suas caras e bocas, suas frases ambíguas e a forma como ela se senta numa cadeira chegam a tal grau de erotismo que não há um homem na platéia que não fique excitado. Nem Tomas consegue escapar de tais encantos. Não é a beleza que põe mesa, mas sim o charme. E este, felizmente, não se encaixa em padrões das revistas de moda e dos programas de TV. Ah, e voltando às lindas gordinhas e magrelas da Dove, quem quiser acessar o site, basta acessar www.campanhapelarealbeleza.com.br. E viva a beleza real!

(Texto publicado na Revista Papangu de junho de 2006)

04 junho 2010

O conga e o congresso





Cefas Carvalho

Cada um ouve as palavras como quer. Foi esta a conclusão que dia desses, eu e os amigos petistas Amorim e Fernando Mineiro chegamos, após uma conversa sobre músicas - após a conversa sobre política, claro - e os equívocos que as pessoas cometem em relação às letras. Eu havia recordado como o brasileiro erra a letra do hino nacional. Tudo bem que a letra é por demais pomposa e arcaica, mas, convenhamos, não saber duas frases de uma letra que ouvimos desde a mais tenra infância é dose. Em um artigo na revista Papangu, recordo que Damião Nobre escreveu sobre o tema, registrando que muita gente canta o “Ouviram do Ipiranga” como “Ouvirumdumpiranga”. Dúvidas? Confira quando os jogadores da seleção brasileira cantarem (?) o hino na Copa do Mundo.
Nos divertimos lembrando de equívocos em relação a canções de Fagner, Renato Russo e até Chico Buarque. Foi quando me lembrei da explicação que o zagueiro Odvan, revelado pelo Vasco da Gama e chegou a jogar pela seleção na malfadada era Vanderlei Luxemburgo, deu em uma entrevista ao Esporte Espetacular deu sobre seu nome: sua mãe era fã de Roberto Carlos e quis homenagear “O Rei” dando ao filho o nome de uma de suas canções. Mas, espere aí, Roberto não tem nenhuma canção chamada “Odvan”. Tem sim, segundo a mãe amorosa: “O divã”.
Foi quando Mineiro recordou de caso que ouviu em um programa de rádio do interior. O locutor, todo animado, recebia telefonemas dos ouvintes pedindo músicas. Foi quando uma senhora entrou no ar, feliz e serelepe, mandando beijos para toda a família e pedindo a música “O conga e o congresso”. O locutor estranhou. De quem, a música? Roberto Carlos, claro, disse a senhorinha. O locutor quebrou a cabeça e não conseguiu lembrar que o Rei tivesse escrito alguma canção sobre o Congresso Nacional e sobre um tipo de tênis (lembram-se do bom e velho conga?). Pediu para a mulher cantarolar um trecho da música. Então, ele entendeu. Ela pedia “O côncavo e o convexo”...