14 maio 2014

Por que essa boca tão grande?


Cefas Carvalho


Eu odiava a minha avó. Sim, não tenho medo de admiti-lo, de maneira que quando minha mãe me obrigou a ir à casa dela, do outro lado do bosque, eu protestei, odiei, até que concordei, com mais vontade de sair de casa do que ficar nela.

O bosque não era perigoso, pelo menos não para mim, que desde mocinha conhecia seus meandros e segredos. Fora no bosque onde conheci o amor. Com o filho do lenhador, rapaz um tanto quanto limitado, mas de braços fortes e um peito onde eu adorava repousar a cabeça depois do gozo. Se minha mãe achava que eu era virgem, minha avó, essa pensava que eu ainda era uma menina, ainda mais porque as duas me forçavam a usar esse ridículo chapeuzinho vermelho, ridicularizado por todas as moças da vila e que me rendeu um apelido tão horrendo que ninguém sabe meu verdadeiro nome.

Bem, o fato é que eu estava andando pela floresta quando dei de cara com o Lobo. Eu sabia que ele não era realmente mau, apenas abobalhado, grande e com uma libido imensa. Jamais fizera mal a alguém a não ser quando provocado ou insuflado. Fizera-me raiva uma vez em que planejei numa festa - mal intencionada, sim, admito - par ele e e seus amigos lobos e eles não apareceram, o que me deixou doente. Foi quando tive a grande ideia. Disse ao lobo - bobo como todos os lobos e todos os homens - que minha vovozinha estava à espera dele, na casa dela, louca de tesão. O bicho saiu correndo, rumo à casa dela . Enquanto isso, sentei-me à sombra de uma árvore para fumar e eis que aparece o lenhador. Era já coroa, barba branca, mas me sorriu de uma forma estranha, de maneira que me subiu um fogo no meio das pernas que assobiei e ele veio até mim. Disse a ele que tinha sido atacada pelo Lobo e que precisava de proteção e ele me abraçou, dizendo que enquanto ele estivesse ali, nenhum mal me aconteceria. Aquela frase me excitou de forma que o apertei forte em meus braços, alisando suas costas e senti que ele também estava excitado. Com aquela brisa fresca correndo no bosque, o barulho dos vento correndo, acabou que... bem, ele me deitou ao chão e o resto vocês sabem. Quando acordamos, lembrei-me do lobo e da vovozinha. E conclui meu plano: O lobo, mau, queria atacar minha pobre avó. O lenhador - impulsivo e querendo me agradar - correu até a casinha e flagrou o lobo devorando minha vovó. Nem ligou para a cara de prazer dela nem para o desespero do lobo... Duas machadadas foram o bastante!... Hoje, escuto minha avó narrar sua epopeia de prazeres com o lobo... por que essa boca tão grande?...