02 fevereiro 2011

Cada um vê o que quer




Cefas Carvalho

O recebimento de um e-mail sobre os supostos milagres contidos no manto de Nossa Senhora de Guadalupe e as posteriores discussões sobre o tema (nas redes sociais e na vida real) me levaram a retornar velhas pesquisas sobre o fenômeno da apofenia.
Na definição tradicional, Apofenia explica o fenômeno cognitivo de percepção de padrões ou conexões em dados aleatórios. Termo criado pelo professor alemão Klaus Conrad, em 1959, ele consiste em importante fator na criação de crenças supersticiosas, da crença no paranormal e em ilusão de ótica.
Trocando em miúdos: cada um vê o que quer. De acordo com cada crença, histórico, medos e circunstâncias de vida, claro. Um cristão que vê o rosto de Jesus em uma mancha na janela ou no café derramado no chão, está vivendo o fenômeno da Apofenia. Mais exatamente, um tipo de Apofenia denomonada Pareidolia.
Em definição, pareidolia descreve um fenômeno psicológico que envolve um vago e aleatório estímulo (em geral uma imagem ou som) sendo percebido como algo distinto e significativo. Exemplos comuns incluem imagens de animais ou faces em nuvens, em janelas de vidro e em mensagens ocultas em músicas executadas do contrário.
Estudando o tema, leio que “ocorrências de apofenia frequentemente são investidas de significado religioso e/ou paranormal ocasionalmente ganhando atenção da mídia”. Isso explica porque tantas pessoas vêem os rostos e Jesus ou Maria em qualquer coisa: panos velhos, árvores, manchas de óleo, paredes com infiltração.
É famosa a imagem do “rosto em Marte”, que muitos garantem ser a imagem de Cristo. Na verdade, trata-se da foto de uma cratera marciana que, no ângulo que foi tirada e com as devidas sombras, se assemelha a um rosto humano graças justamente à pareidolia.
Antropólogos registram que, por carga genética, o ser humano procura ver faces humanas em tudo, como uma tentativa instintiva de estar perto da própria espécie. Isso explica porque vemos o “relógio triste” (como na foto acima). E também porque bastam um circulo, dois pontos e uma linha para termos a impressão (ou a certeza) que trata-se de um rosto humano.
Pesquisando mais sobre o tema, leio que “em situações simples e ordinárias, este fenômeno fornece explicações psicológicas para muitas ilusões da mente como, por exemplo, as visões de OVNI alienígenas, mensagens gravadas ao contrário em músicas, Monstro do Lago Ness, Pé- Grande e a face de Jesus em Marte”. Ou seja, como o ser humano não consegue viver sem a presença de sobrenatural, da-lhe apofenia e criatividade para cada um ver o que lhe aprouver...

Um comentário:

Samuel Paiva disse...

Interessante o tema, Li alguma coisa a respeito no livro “O Mundo Assombrado pelos Demônios” de Carl Sagan, o biólogos dizem que foi importante evolutivamente para os nossos ancestrais reconhecer facilmente os rostos humanos e assim estimular um fortalecimento dos laços, por exemplo, entre pais e filhos. Engraçado é que essas pessoas dizem que são movidas unicamente pela fé, que não estão nem ai para as evidencias dos orgulhosos céticos, mas não perdem tempo e produzem as que julgam convenientes.
Samuel Paiva http://oefeitocafeina.blogspot.com/