01 novembro 2010

Que os mortos enterrem os mortos


Cefas Carvalho

Odiava o Dia de Finados. Aquela data em tudo atrapalhva sua tranqüilidade e seu bem estar, valores que, depois de tudo que passara, ele prezava muito. Por que lembrar os mortos?, ele costumava se perguntar. Lágrimas e recordações nem fariam os mortos retornarem à vida e nem serviriam para coisa alguma no além-vida. Melhor seria que os vivos cuidassem das coisas da vida, como, aliás, preconizava o livro sagrado dos Cristão e o próprio bom senso. Contudo, não poderia se furtar e viver mais aquele Dia de Finados, a se fazer presente no cemitério. Mais quem uma obrigação, mais que uma necessidade, sentia apenas que deveria se fazer presente no cemitério. Talvez por respeito às pessoas, talvez por aquele estranho senso de obrigação que desenvolvemos em relação a alguns aspectos da vida. Diante de tantas reflexões e da celeridade da hora, terminou por se resolver e comparecer ao cemitério. Não lhe agravada estar em meio a túmulos, lápides, cruzes, mármore e flores. Detestava o cheio de flores e na verdade, mal se dava conta que não aspirava mais o cheiro delas, o que sentia era a lembrança do cheiro das flores. Observou sua esposa aos prantos – ela chorava por tudo, afinal – e seus dois filhos simulando tristeza e mal disfarçando a vontade de ir embora. Morrera havia quatro anos e – somente quando evocado no dia 2 de novembro - não conseguia ficar em paz em meio às trevas e ao nada que tanto lhe agradavam. Como odiava o Dia de Finados.

Um comentário:

Anônimo disse...

Thanks :)
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