16 setembro 2008

O navio


Cefas Carvalho

Leu o que havia escrito. Não gostou. Ou gostou de forma estranha, um gostar sem realmente apreciar. Na verdade, nunca amava o que escrevia. Ou talvez amasse, mas de forma inusitada, como deve ser o amor. Escrevera daquela vez sobre um navio, que, colhido em alto mar por uma tempestade, começava a afundar no oceano. Nunca estivera em um navio, antes, pelo menos não quem se lembrasse. Teria feito uma analogia? Que seria o navio? Sua vida? O amor que poderia se afogar no oceano do dia a dia? Ou, seriam apenas suas leituras passadas, remotas – Moby Dick, Odisséia – que vinham brincar em sua mente e o induzir a escrever. O navio afundou, pois então. Havia um barco salva vidas, mas apenas um e todos os quinze tripulantes fizeram um pacto para, juntos, morrerem no navio sagrado que construíram e com o qual sonharam em conquistar o mundo, ou pelo menos, um mundo, como o famigerado Cortés. Era o fim da história, então. Releu o que havia escrito. Sorriu para si mesmo e pensou se queria realmente ter escrito sobre um navio que afundada e um pacto de morte. Acendeu um isqueiro e queimou a folha de papel no cinzeiro...

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Cefas,

Seu navio, ainda que tendo derivado, está muito interessante.

Um abraço,

Rizolete

Unknown disse...

me identifiquei. gostei muito, quero ler mais.

- disse...

opa, o comentário aí em cima é meu. hahaha.

Moacy Cirne disse...

Muito bom. Vai pro balaio, mais dia, menos dia. Um abraço.

Moacy Cirne disse...

Cefas: o seu "Navio" acaba de afundar no Balaio... Abraços.

Cefas Carvalho disse...

Obrigado, Moacy. É sempre uma honra ter um texto publicado no seu ótimo balaio.