Contendo nada menos
que três obras primas, a trilogia chamada “Perfis de mulher” foi escrita pelo
cearense José de Alecar e consiste em verdadeiras pérolas da literatura
brasileira. Composta pelos romances “Diva”, “Lucíola” e “Senhora”, a série é
subestimada e confundida com obras de menor cunho (como “Inocência” e “A
moreninha”). Bem, como homenagem a Alencar e à
alma feminina, este espaço começa, a partir desta edição, a sequência
“Perfis de mulher”, com textos já publicados neste blog (como o conto abaixo) e
outros totalmente inéditos que virão. Confira agora o conto “Lana”.
Cefas Carvalho
Chamava-se Lana,
como na canção de Roy Orbison. Ela era bela e triste, como todas as canções do
Roy. Conheci-a em um bar, lugar sagrado onde geralmente conhecemos as pessoas
importantes que marcam a nossa vida. É tolice tentar descrevê-la. Bem sei que
não tinha uma beleza convencional, tampouco era dona de imensos olhos azuis,
como nos clichês românticos. Era bela e normal. Estava sozinha na mesa,
iluminando o local com seus olhos melancólicos e oblíquos, como diria Machado
de Assis de sua Capitu. Ganhei coragem para abordá-la e me convidei para sentar
à sua mesa. Ela concordou, disse como se chamava – Lana... – e conversamos
sobre tudo e sobre nada... Compartilhamos nossas tristezas, rimos das nossas
parcas alegrias nesta vida, descobrimos que ambos estávamos sozinhos e à
deriva, tanto naquela noite como na própria vida, e por fim convidei-a para
passar a noite no meu apartamento. Compramos uma garrafa de vinho tinto barato,
pegamos um táxi e nos trancamos em nosso pequeno universo. Foi uma noite
inesquecível, com Lana em meus braços...daquelas noites que não deveriam
terminar nunca. Terminados os jogos amorosos, cogitei pedir seu número de
telefone e perguntar onde ela morava, e talvez jurar aos seus pés que queria
vê-la mais mil vezes, mas considerei que, quando acordássemos, pela manhã, eu
faria tudo isso e muito mais. Dormi o sono dos justos e dos exaustos de tanto
amar. Acordei com uma leve ressaca por volta das onze e, quando dei por mim,
percebi que Lana não estava mais no quarto. Não estava mais no apartamento,
havia ido embora. Dando uma geral pela casa, percebi que tudo estava em ordem,
ela não levara nada, mas também não deixara nada. Talvez, só, ainda mais
tristeza dentro de mim. Recordei, mais melancólico do que nunca da canção de
Roy : Oh beautiful Lana...
Imagem: Egon Schiele
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