Torturar,
fatiar, eletrocutar, agredir, esfaquear, esbofetear, trair, carbonizar, pode!
Fumar não pode. Esta é a conclusão a que este escrevinhador forçosamente chegou
ao ler em um site uma informação bizarra: o desenho animado de Tom e Jerry, que
fez a minha alegria na infância e a de onze em cada dez crianças de várias
gerações, vem sendo duramente criticado na Inglaterra depois que um espectador
telefonou para o Ofcom (órgão regulador da programação de TV no país)
reclamando que o gato Tom costuma fumar, e isso representava um péssimo exemplo
para as crianças.
Efetivamente no
episódio “Texas Tom”, o gato azarado tenta impressionar uma gatinha enrolando
um cigarro, acendendo-o e fumando-o com uma mão. No outro episódio, o “Tennis
Chumps”, o adversário de Tom fuma um grande charuto. Resultado: em boletim
publicado em seu website, a Ofcom apontou preocupações de que fumar na
televisão possa influenciar a esse hábito. A empresa que licencia o desenho
concordou em editar algumas cenas de fumo de Tom e Jerry. Quem diria, Tom e
Jerry censurados e com cenas cortadas em um país democrático e em pleno século
21!
Mas, o curioso
é perceber que o mesmo espectador que tanto se ofendeu com o cigarro do felino
não se importou com toda a violência do desenho. Sim, pois Tom e Jerry, ao lado
do Papa Léguas, é um manual quase didático de como impingir dor e sofrimento a
um inimigo. Já assisti a Tom ser retalhado, esquartejado, torrado, agredido com
bigornas, ter os dentes quebrados um a um, sempre pelo rato Jerry que o faz com
um sádico sorriso e sem nenhum resquício de culpa. O curioso é que eu não
lembrava de ter assistido aos episódios que Tom fuma cigarros. Devo ter
assistido, mas nem por isso comecei a fumar.
Da mesma forma,
também adorava Tom e Jerry nem por isso retalhei ou carbonizei minhas irmãs e
meus amigos. Ah, e também ouvi muito heavy metal quando adolescente, em
especial Iron Maiden e Metallica, meus preferidos nesta seara. A obra prima do
Iron Maiden é “666-the number of the beast” (666 – o número da besta), que
evidentemente fala sobre o demônio, ou como queria mestre Guimarães Rosa, o
cramulhão, o capiroto, o tinhoso. Bem, o fato é que embora ouvisse a música com
razoável freqüência, nem por isso adentrei nos caminhos de adoração do demo.
O politicamente
correto é positivo porque luta pela cidadania e defende os direitos das
minorias, mas tem lá seus exageros. Desenho animado não influencia criança
alguma. Nem os mais violentos tipo Papa Léguas, nem os alucinados tipo Pokemon
e nem os edificantes e mimosos como Bambi, Cinderela ou Pocahontas. Criança
alguma fica boazinha ou adentra os caminhos da maldade com base em desenhos
animados. Em suma, nenhum fumante que eu conheço, começou a fumar porque
assistiu Tom ou qualquer outro personagem de desenho animado fumando, muito menos
porque viu fumantes em filmes (passei boa parte da adolescência vendo Humphrey
Bogart, Clark Gable e Bette Davis fumando centenas de cigarros nos clássicos
americanos e nunca fui fumante). Animação só diverte, mesmo com excessos.
Discutir a qualidade dos desenhos é outra coisa. E neste aspecto, convenhamos
que Tom e Jerry são dos melhores. Deixem o pobre Tom fumar em paz!
2 comentários:
As pessoas esquecem que quem precisa educar as crianças, são os pais e não a TV e games.
Concordo com seu texto na totalidade.
Parabéns, você escreve bem.
Mauro
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