Cefas CarvalhoPara quem como eu morou alguns anos na zona Sul do Rio de Janeiro e em Natal estudou no Colégio Maria Auxiliadora convivendo com amigos que estudavam no Marista, Salesiano e outros colégios religiosos-elitistas não é dificil entender o processo operacional e emocional dos quatro playboys que espancaram uma doméstica na capital carioca há três semanas, em fato que chocou o país. Muitos preferem partir para análises mais profundas, como se o fato fosse gerado pela crise moral do país ou pelo caos na comunicação entre pais e filhos, mas minha análise é mais para filosofia de botequim: filhinhos de papai, em geral, tem uma visão deformada da vida em sociedade e das diferenças. para eles, eles próprios são uma casta superior e qualquer coisa que não faça parte de seu universo sócio-econômico e de seu mundinho perfeito-imaginário (negros, gays, índios, putas, mendigos) é algo inferior, que merece - e pode - ser mutilado, exterminado. Ou “zoado”, para usar um termo utilizado por um dos playboys detidos no Rio, Rubens Pereira Arruda Bruno, 19 anos, universitário, morador da barra da Tijuca. Em seu depoimento á polícia ele disse que espancaram a doméstica por engano, pois queriam “apenas zoar as putas”. Ou seja, queriam apenas se divertir. Presume-se, portanto, que as putas de baixa e média categoria, as que ficam nas ruas, são seres humanos de segunda classe, que podem (devem?) sofrer chutes e socos em prol da “diversão” de filhinhos de papai endinheirados, ociosos e bêbados. O raciocínio do infeliz Rubens Bruno é similar ao usado por um dos assassinos do índio Galdino, há alguns anos. “pensamos que fosse um mendigo”. Ou seja, mendigo está lá nas ruas para isso mesmo, para ser queimado vivo, ou chutado, espancado, retalhado. Mendigo não é gente, pensam estes filhinhos de papai. Mas, a questão é que o que acontece em Brasilia e no Rio poderia muito bem acontecer em Natal. O raciocínio dos playboys nataleneses é similar ao dos rapazes do Sul Maravilha. Quem tem dúvida, que frequente barzinhos, festas e forrós onde estes indivíduos frequentam e observe como eles tratam garçons, flanelinhas, engraxates, qualquer outro ser humano que não faça parte da sua “tchurma”, que não compre roupas na Colcci, Stalker e Adji, não tenha um carro do ano dado por painho quando passou na faculdade para a Universidade paga, é um ser humano inferior. Talvez nem chegue a ser gente. Já presenciei na mesa ao lado filhos de políticos “zoarem” um garçom em um bar da moda por uma bobagem. Teve até o tradicional “você sabe com quem está falando?”. Apesar da divulgação maciça do caso dos playboys cariocas, nada indica que este tipo de gente mudará. Domésticas, putas, negros e gays que fiquem em alerta: pode ter um playboy querendo “zoar” com você!
Um comentário:
E para completar, gostaria de lembrar, que estes que espancam, matam, queimam, são em alguns casos, filhos, sobrinhos, enteados, etc. daqueles políticos que ajudamos a eleger. Que em resumo, sabe exatamente o que não vai acontecer com eles, ou seja, a punição que os pobres, negros ou sem parentes políticos, recebem.
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