Cefas Carvalho
Sempre fui apaixonado pela descrição que Machado de Assis fez de sua Capitu em “Dom Casmurro”, para mim o maior romance já escrito nestas terras brasileiras. A moça em questão – que enlouquece Bentinho de ciúmes e dúvidas – tem “o olhar oblíquo e dissimulado, olhos de ressaca”, segundo o gênio do Cosme Velho.
Nada mais normal que mulheres com este predicado me fascinarem, ainda que platonicamente. E nada ainda mais normal que o cinema – com suas musas – ser o veículo perfeito para este fascínio.
Entre as paixões cinematográficas, recordo dos olhos de Capitu de Nastassja Kinski em muitos filmes. Também do olhar de Hanna Schygulla, musa de Fassbinder.
Mas poucas atrizes encarnam o conceito “olhar de ressaca” como a francesa Ludvine Sagnier. Em pelo menos dois filmes ela desfila esse olhar “capituniano”: em “Swimming pool” (de Francois Ozon) ela encarna uma Lolita perversa e confronta a musa Charlotte Rampling. Em “Canções de amor”, musical de Christophe Honoré, ela vive uma burguesinha mimada que experimenta um ménage a trois.
Cada fotograma de Sagnier exprime o olhar que Machado descreveu. A personagem Julie é ambígua, estranha, talvez cínica, talvez carente. Canta cinco músicas no filme, todas sobre (des)amor, relacionamento e ciúmes. Todas com o olhar de ressaca que, no filme, fascina homens e mulheres e confunde a própria família.
É certo que o cinema francês sempre foi pródigo em musas. Há algumas décadas, Catherine Deneuve e o mito maior Brigitte Bardot. Nos anos oitenta, Isabelle Adjani e Juliette Binoche. Mais recentemente beldades talentosas como Julie Delpy, Emmanuelle Beart e Sophie Marceau. Sagnier pode ser a estrela da vez.
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