Cefas CarvalhoAssisti ontem, segunda dia 21, ao filme “Bravura indômita” e a primeira coisa a dizer sobre o filme é que ele deveria se chamar “Coragem verdadeira” ou “Um homem de caráter”, traduções aceitáveis para o “True grit” orginal. Por definição, “grit” é “firmeza de caráter”, “arrojo”. Também pode significar “brita”, “pedrinha”. Ok, a intenção da distribuidora era registrar que trata-se do remake do clássico de 1969, que deu o Oscar de ator a John Wayne (ele está ótimo naquele filme, mas suplantar Jon Voigt e Dustin Hoffman em “Perdidos da noite” e Richard Burton em “Ana dos mil dias” é brincadeira!).
A consideração inicial me faz lembrar a vocação que as distribuidoras brasileiras tem para “traduzir” títulos de faroestes (geralmente colocando títulos ridículos ou sem-noção). Exemplos são "Shane", que virou “Os brutos também amam” e “My Darling Clementine (Paixão dos fortes). Mas, isso é assunto para outro artigo. Vamos ao “True grit”.
Quase todo cinéfilo que o valha já discutiu a obra de Ethan e Joel, os irmãos Coen. Os fãs registram o óbvio:
os Coen não erram, não fazem filmes ruins. Os detratores ou não-encantados com a dupla registram que
eles podem não fazer maus filmes, mas nunca fazem nenhum filme realmente empolgante, arrebatador, por mais que ganhem prêmios (Uma palma de ouro em Cannes, Oscar de direção, dois Oscars de roteito, entre muitos outros).
O dramaturgo paulista Mário Bortolotto chegou a ensaiar uma polêmica na rede social Facebook justamente afirmando que jamais se encantou profundamente com nada que os Coen fizeram. Lembraram que, em compensação, os Coen nunca erraram a mão como já o fizeram os mestres Fellini (“Cidade das mulheres”), Bergman (“O ovo da serpente”) e Chaplin (“Monsieur Verdoux”).
Na verdade, na minha ótica os Coen fizeram, sim, um filme superlativo: “Onde os fracos não têm vez”, tradução banal e simplista para o poético “No country for old men”. Tudo ali funciona. Das interpretações magistrais de Javier Bardem e Tommy Lee Jones ao clima “seco” do filme (que sequer tem trilha sonora), passando pelo tema da ambição e estudando a violência dos dias de hoje. Tudo com fotografia e roteiro de primeira e o “estilo Coen” á última potência. Um clássico desde já.
Agora, os Coen conseguem a façanha de produzir outro clássico instantâneo adaptando um romance estilo faroeste apenas razoável da década de 60 e que já tinha sido adaptado com sucesso. Quem leu o livro assinala que a adptação é fiel. Contudo, o filme tem o “estilo Coen”. Humor negro aos borbotões, personagens estranhos, cinismo, violência, a fotografia sempre fantástica de Roger Deakins, ótima direção de atores. Jeff Bridges está fantástico como o beberrão Rooster Cogburn.
A trama é um apanhado de clichês do faroeste: jovem cujo pai foi assssinado contrata um pistoleiro policial federal para apanhar o criminoso. No caminho, problemas, desventuras e violência. Mas, dos clichês, os Coen (como Almodóvar) fazem um filme “deles”. No frigir dos ovos, os fãs dos Coen vão adorar. Os detratores vão encontrar o que criticar (os clichês, o bom mocismo de Cogburn no final, o tema escolhido, o fato de ser um remake). Enfim, mais de uma vez já assinalei que não assisto filmes com olho crítico. Gosto de autores e filmes por empatia e intuição. E os Coen mantiveram – em relação a mim - a tradição de me fazer esperar o próximo filme deles, seja que tema for, seja com quem for. A esperar. E até lá, rever parte da obra da dupla, como “Barton Fink”, “Fargo” e “Gosto de Sangue”.
Um comentário:
O filme tem realmente uma grande fotografia de Roger Deakins. Merece o Oscar.
Abração
www.ofalcaomaltes.blogspot.com
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