Cefas CarvalhoSabemos todos que as coisas sobrenaturais existem com tanta intensidade quanto as naturais, apenas não se oferecendo à vista humana as primeiras tanto como as segundas, com as quais nossos olhos já estão acostumados. Dito isso e com a certeza que o mundo invisível
é tão ou mais real que o visível, inicio meu relato sobre os fatos que aconteceram naquela malfadada noite de agosto.
Éramos quatro; eu, Borba, Bento e Machado, que, de tanto beber e contar vantagens tornamo-nos corajosos de súbito. Ainda no bar, um de nós pensou em subirmos a estrutura metálica da ponte velha. Outro cogitou jogarmos estrume à porta de igreja. Até que Bento foi enfático:
Sejamos homens e hereges de verdade! Violemos um túmulo!O medo de ter medo e o grau etílico que estávamos nos impulsionaram para o cemitério. Uma vez entre as tumbas, munidos apenas de uma lanterna velha e ajudados pela lua cheia, procuramos um Túmulo ideal para profanarmos. Até que Bento, como se tomado por um espírito, gritou:
É esse o túmulo!, e apontou para uma cova cuja terra – recém cavada – ainda estava fresca. Por alguma razão, evitam os ler o nome na lápide, e, com as pequenas pás que carregamos, começamos a cavar. Não tardou para que chagássemos ao caixão, de madeira ordinária e gelada.
Com certo temor – admito, com desespero – olhamos um para o outro na expectativa de levantar a tampa e concluir a profanação do túmulo, nosso terrível objetivo. Decidido, Machado segurou com força a tampa e puxou-a, conseguindo abri-la com ajuda de Borba. Tenso, olhei para dentro, curioso em ver o corpo frio de alguém que outrora fora um ser humano.
Qual não foi nossa surpresa! O caixão estava vazio. Será alguma brincadeira de mau gosto?, sussurrou Machado, mandando Bento ler o nome escrito na lápide. Nosso infeliz amigo iluminou a placa e lemos a inscrição: “Aqui jaz Bento Araújo Alencar, profanador de túmulos. Que o inferno o leve!”.
Sem acreditar, olhamo-nos novamente. Bento leu a data de nascimento. Era exatamente o dia em que nascera. Quanto a data de morte? Aquele mesmo dia: 13 de agosto daquele ano amaldiçoado.
Entre o horror e o desejo de sair dali, vimos nosso amigo Bento desmaiar e cair deitado dentro do caixão. Paralisados pelo medo, demos um passo para trás. A tampa do caixão fechou-se sozinha e saímos então daquele lugar maldito. Para nunca mais voltar.